terça-feira, dezembro 06, 2005

É o amor


É o amor
Numa folha outonal
Leve, como se todo o vento
Suspendesse a eternidade

É o amor
Num floco de neve real
Que voa e num momento
Suspende toda a saudade.

É o amor
Aberto na Primavera floral
Prado verde que em crescimento
Suspende toda a castidade

É o amor
Nas dunas escondido do sal
Camas, do verão alimento,
Suspensas na sensualidade.

É o amor
Sem nostalgia nem mal
Só de entrega firmamento
Só de estrelas propriedade,
Sem enganos nem medos,
Sem lágrimas nem segredos,
De nossos corpos movimento
De nossas almas verdade.

E se o nosso amor ao amor
Uma dia perguntar, afinal ,
Se nunca houve lamento
Se não houve fragilidade,
Ele dirá em alta voz,
Respondendo com vaidade,
Que só nos tivemos a nós
E que ele surgiu dos pós
Que levantou nossa vontade

É este o amor
É esta brisa imortal
Soprada de nós sem ser vento
De nossas almas unidade


Foto: de agrafo.net

domingo, dezembro 04, 2005

AMORO-TE


Desejo inventar palavras.
As que conheço parecem-me poucas,
Insuficientes,
Demasiado comuns e pequenas.
Às vezes fico dividido
Entre duas palavras…
E essa divisão não surge, sequer,
Entre a palavra que quero dizer
E a que imagino que queres ouvir.
Apetece-me dize-las às duas,
Numa só.
Como se ambas fossem uma,
Num único significado,
Abrangedor de ambas.
Hoje quero dizer que te adoro.
Porque és como o meu astro regente,
Que me dá vida…
E que eu venero como a um Deus, intocável.
Mas também quero dizer que te amo,
Que és tão igual a mim que podemos ser um só,
Penetráveis!
E nessa palavra que possuisse os dois significados,
Ponte entre o intocável e o penetrável,
Queria dois pilares de silêncio.
Que suportassem os dois significados.
Um pilar de silêncio
No momento em que a ouves,
Por não a conheceres.
E um outro feito do silêncio do momento seguinte,
Em que dás conta do plural do significado,
E engoles em seco a palavra nova que sai da minha boca
E que te impede de dizer que me queres.
Inventei agora essa palavra:
Amoro-te!
E amoro-te porque te amo e te adoro
E quando digo que te amo não esqueço que te adoro
E quando te digo que te adoro, lembro-me que te amo
Quando digo só uma dessas palavras
Não digo tudo…
E o que não digo…
Fica-me preso na garganta
Como azia…
E amoro-te lembra-me amoras..
Digo amoro-te
E fico com um gosto doce na boca
Às amoras
A amores
Que se adoram
Porque são doces.
…Mesmo quando não estás comigo.


Foto: Steve McCurry

Amor escorrido


O meu carro cheira a ti
O teu suor, preso nos vidros,
Pede que lhe desenhe corações
E setas.
Dos quais se soltem gotas
Não de sangue!
Mas de mais suor
Prazer que foi
Solto em gemidos,
Carícias evaporadas,
Beijos fervidos,
Corpos fundidos
E mais desejo
Escorrido em cada gota
Que nos abandonou o corpo
Nos vagueou na alma
E se condensou nos vidros baços
Que pedem corações
Desenhados,
Que cheirem a ti.


Foto:Juan Carlos Rivera

quarta-feira, novembro 30, 2005

Porque te amo!


Porque te amo!
Amo-te apenas porque te amo
E nessa razão, nesse motivo,
Estás apenas tu.
Nada mais.
E como é estranho não estarem em mim os motivos,
Até porque o sentimento é meu!
Mas é no teu sorriso
É nas tuas graças que, até quando são chalaças, me fazem rir.
E é no teu olhar… é tão brilhante!
Às vezes o teu olhar parece que carrega todas as estrelas,
Mesmo a estrela do norte.
E quantas vezes andei perdido!
E agora eu perco-me, de outra forma, nesse olhar.
Nesse olhar que parece que tem a estrela do meu norte.
E gosto do cheiro do teu cabelo
(Acho que cheira a um champô qualquer, mas também cheira a ti…).
E gosto da forma como dizes que gostas de mim:
Parece que o mundo sai da tua boca e me pousa nas mãos.
E depois oiço o mar, como se a tua boca fosse um búzio,
Onde eu pudesse ouvir o mar,
Porque logo de seguida rematas com nova vaga:
Gosto de ti…
Apenas porque gosto de ti!


Foto: Jan Saudek


Eras Vénus
E virgem.
Faltavam-te os braços
Tamanha era a imensidão do que querias agarrar.
Os mamilos saltavam-te
Como se todo o desejo estivesse naqueles dois pequenos pontos.
E o desejo…
Era escondido por uma túnica que se soltaria a qualquer momento.
E caíam flores,
Caíam flores em cachos dos teus cabelos em cachos desprendido.
E todas as flores eram de teu cabelo
E ele cheirava a flores
Como se todo o perfume estivesse enfrascado neles.
E eras luz
E de tão iluminada pela luz do teu próprio olhar e pelo desejo do meu…
Tudo antes de ti foi cinzento
Tudo depois de ti será cinzento
Mas agora
Até o cinzento
Tem mais cor
…e mais luz…


Foto: Jan Saudek

terça-feira, novembro 29, 2005

Sexo Seguro, com Natália Correia brincando a sério



DesCrucificação

Vertical sou contra o sexo
Horizontal a favor.
Nesta cruz me crucifico
Vertical sem protecção
Horizontal com protector.

Vertical sou a favor do sexo
Horizontal nunca digo não
E desta cruz me desprego
Vertical faço-o com nexo
Protegido e com Mãexão *


*(feminismo de paixão, não usado - penso! - por Natália Correia mas que - penso - lhe seria caro como foi o "Mátria")
Foto:Jose Marafona
Inspirado no seguinte poema de Natália Correia:
CRUCIFICAÇÃO

Vertical sou contra Deus
Horizontal a favor.
Nesta cruz me crucifico.
Vertical com desespero.
Horizontal com amor.

Sexo seguro, com José Carlos Ary dos Santos brincando a sério


Se não se abrem caixas donde corre esperança
Podem fechar-se os olhos donde corre a vida.
Porquê ignorar, fingir que não nos alcança?
Porquê fugir e tombar logo de seguida?

Tomar coragem, faze-lo com segurança
Porque amar é bom, não é coisa proibida
Vamos rir-nos do anjo negro que ergue a lança
Mostrar-lhe sexualidade protegida

Porquê impedir-nos do tão bom que é o orgasmo?
Se o podemos ter com quem quisermos agora
Sem ser relevante o sexo que nos excita…

Vamos “Antes viver do que morrer no pasmo
Combate ao “nada que nos surge e nos devora”!
Combate ao “monstro que” ignorámos “e nos fita”!

Foto: Jan Saudek



Inspirado no seguinte poema de Ary dos Santos:

"Soneto

Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita. "

segunda-feira, novembro 28, 2005

Sexo seguro, com Florbela Espanca brincando a sério


Se me possuísses hoje à tardinha
Numa hora de mágicos amassos
Quando a tua vontade se avizinha
E a minha pra ti corre em largos passos

Quando me lembra: esse sabor que tinha,
Tuti-fruti ou látex sem melaços.
Ter, perto, sempre mais uma caixinha
No hotel ou numa cama de sargaços

Quero amar-te e ter-te perdidamente
Ser tua, em tua torre de marfim
Perder-me em alvos lençóis de cetim

Mas encontrar-me segura entre a gente,
Protegida dum mal que se não sente,
Nem se vê, mas pode ficar em mim…


Foto: Jan Saudek

Quando chegas


Quando chegas o mundo é diferente.
Os teus olhos brilham mais que na minha memória.
E são mais vermelhos os teus lábios
E o sabor que fica nos meus
É mais denso,
Intenso.
E o teu toque é mais quente.
E o mundo é diferente,
Quando chegas.


Foto: F.C.Gundlach

domingo, novembro 27, 2005

Sexo seguro, com Bocage brincando a sério



Temo que, em minha ausência, a desventura
Entre em tua cama, que deixo acesa,
Sem as borrachinhas que são defesa
Da vil maleita que inda não tem cura

Temo que uma singular mordedura
Leve na veia a vida d’asas presa
Esquecida na gaveta da mesa
Que, à cabeceira, mais vida, murmura

Temo, ainda mais por ti que por mim,
Já que o uso sempre, mesmo no “cio”,
Quando a razão não acompanha o sim…

Olhando, cheia, a caixa, no vazio.
Não quero que digas um dia, enfim:
“Era fiel, protegia-me e esqueci-o”


Foto: Jan Saudek

Medo


Da lua soltas cordas de guitarra
Num fado que é todo o nosso luar
Iluminado barco sem amarra
Que não seja a pura amarra de amar
E corda mais forte não vai soar
Que não a que prenda olhar à melodia
E eu, barco solto, vou em ti fundear
Sem cordas que amarrem minha alegria.
Ser teu sem medo de mágoa, um dia…
Ser teu sem medo da noite ter fim
Saber-te o luar que a noite pedia
Saber que somente por ti eu vim.

Barco sem porto, sem cordas nem nós
Desamarrado nas águas mais fundas
Perdi-me num canto em cantos sem dós
E só em ti me achei nas notas profundas.
Não sofras medo nem nele confundas
Amor com medos de medos sem fim
Pois, o luar que na noite te inundas
Não é mais que o medo que brota de mim
De no escuro perder tudo ao que vim...


Foto: John Nikolai

sexta-feira, novembro 25, 2005

Sexo seguro, com Camões brincando a sério


Amor é sexo à tarde sem temer
Amor é sexo à noite de repente
É um preservativo entre a gente
Que nos une e protege sem se ver

É um não querer mais por não o ter
É um correr solitário e ausente,
Procurar por uma farmácia, urgente!
E à cama voltar para te comer

É querer-te e comer-te com vontade
Em ti estar protegido e sem temor
É não ter quem nos mate, lealdade.

Como pode o sexo ser também dor
Se o podemos ter em qualquer idade
Sempre e seguro com todo o amor?
Foto:Edward Buckley

Vermelho infinito


Danças no fogo
Nele serpenteias
E nesse teu jogo
Também me incendeias

Nas brasas que estalam
És brasas ao rubro
Num corpo que cubro
Com beijos que calam
Com beijos que falam
E até dizem não
Nos fumos que exalam
Perfume em paixão

No fogo crepitas
Às cinzas dás vida
Fénix renascida
O meu corpo agitas
Fogos que vomitas
Em beijos que são
Brasas no carvão
Que me ressuscitas
No meu coração.

Fogo adormecido
Agora alta chama
No fogo reclama
Mais fogo engolido
Mais fogo sorvido
Em salivas mornas
Que da boca entornas
Em suor e gritos
Soltos em espelho
Buscando infinitos
Em tons de vermelho

Vermelho infinito
Fogo de paixão
Pecado ou delito?
Não me importo, não!



Foto: Dave Nitsche

quarta-feira, novembro 23, 2005

Nova fase - quarto crescente



A pena, colocada numa mão que vai chorar, acaba por ser levada numa brisa soprada por um beijo... com o qual se não conta, nem se espera... E deixa-se planar. Porque a poesia é vida, não a pode negar...E se à vida sobram asas, que se lhes agarrem também as palavras e se deixem voar com ela sem que o destino importe.
Que batam todas as asas e que voem todas as palavras, que as emoções transbordem em caudais de sensações e que em cada boca se deposite um beijo... ou, pelo menos, o desejo...

terça-feira, novembro 22, 2005


Se tiver de partir não digo adeus
Se tiver de o dizer não vou olhar
Se meus olhos se prenderem aos teus
Não mais direi adeus, irei ficar!

Se tiver de te deixar… ai meu Deus,
Fá-lo-ei pelas sombras do luar
Tornando todos os escuros meus
Anoitecendo, ai meu Deus, sem cessar

Se tiver de partir, irei partir
Em sete ondas sem tocar a areia
Recuadas na força do sentir

Sem Deus no adeus cerrado na traqueia
Serei penumbra do negro a fluir
Se tiver de partir p’la lua cheia...


Foto: Jan Saudek

Louco


Escreve durante horas a fio...
As palavras? Busca-as nos outros.
Mas são suas!
As suas palavras que busca nos outros!
Prefere escrever na dor...
-“ Na dor, os sentimentos apuram-se”, diz.
Na dor dos outros!
A sua dor? Já não a sente!...
Dela apenas guarda a lembrança.
Então... vive a dor dos outros,
Provoca-a até!
É louco!
Do sangue faz tinta,
“A tinta da vida”, como lhe chama!
E escreve palavras de sangue...
Com o sangue dos outros!
Quando escreve tira-lhes a dor, promete!
Também a sua dor se esgotou no papel
Escrito com a sua tinta da vida.
Esgotou todo o seu sangue
E as suas feridas abertas deitam vazios.
Sempre que escreve sobre si o papel fica branco!
Não sabe se lhe falta tinta ou vida,
Ou ambas as coisas!
É louco!
Escreve então as suas histórias...
Com a história dos outros.
Abre-lhes as feridas latentes
Com a pena espada dos sentidos
E eles dão-lhe a tinta da vida!
E ele escreve...
Horas a fio,
…Dos outros.
É louco!
Talvez um dia a dor do mundo
Fique toda no seu papel
E depois tenha de escrever em branco
Na dor que já só ele recorde...
Como um frasco de perfume
Vazio
Que continua a deitar cheiro…
É louco!



Foto:Jan Saudek

segunda-feira, novembro 21, 2005

Flor do amor


Deixo-me apenas abrir em vã flor
No tempo exacto para em mim beberes
Todo o meu mel que para ti quiseres
E morro ao sol… seco, a seguir, sem dor

Pétala a pétala me fecho à cor:
(como se os beijos que já me não deres
Me amortalhassem no capuz que queres
Que eu vista, vivo, esquecendo o amor).

Deixo-me abrir para depois fechado
Saber a teus lábios em mim lambidos
E germinar nos mil sabores idos

Mais vale viver um triste amor cerrado
Que não viver por este amor tomado.
É por amor que guio os meus sentidos…


Foto: Arnt Sneve

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