quinta-feira, novembro 10, 2005

Meu reino de fantasia…Ou talvez não...


Perdi-me na noite escura
Ouvi, no breu, soluçar,
Soluços de amargura
Entre as sombras do luar.
Toda a floresta gemia
Solidária com a dor
Raios de lua na noite fria
Raios ténues sem calor
E a dor tudo envolvia
Na luz breve do rumor
Quem chorava eu não via
No luar que se extinguia
Prisioneiro do amor

Eis então que amanheceu
E o choro foi-se extinguindo
E outro lhe sucedeu
Um no outro se confundindo
E queria saber quem chorava
O novo choro, as mesmas penas
Na luz da madrugada
Na luz feita de dor apenas…
Um choro que ía aumentando
Enquanto o outro se extinguia
Um no outro se tocando
Naquela manhã tão fria
Perguntei a um rouxinol
- Rouxinol, quem chora?
Calou-se no despontar do sol.
E, dos choros da aurora,
Ficou apenas um
Que vinha de todo o lado
Sem ser de lugar algum,
Aquele choro magoado!

E durante o dia chorou
E o céu chorou com ele,
Lágrimas do azul brotou
Todo o azul daquele.
O céu ficou cinzento
E todo o cinzento do mar
Ficou azul no momento
Que o céu parou de chorar.
Perguntei ao mar e ao céu
De quem era a agonia
O céu não respondeu
O mar secou uma onda fria.
Uma gaivota que passou
Ao ouvir o soluçar
Com ele também chorou
Afogando-se no mar.


O horizonte ficou vermelho
Assumiu cores de paixão
O choro ficou em espelho
Pois outro surgia, então
E no momento do ocaso,
Quando o dia perde o calor,
Ouviu-se sem algum atraso
Lancinante grito de dor.
E parado o tempo num segundo
Novo grito a ecoar,
Desabando sobre o mundo
O primeiro soluçar.
Uma estrela despontou
E ao ouvir tal dor gemida
Com ela também chorou
E apagou-se de seguida…

Outras estrelas foram surgindo
Chorando como a primeira
Na escuridão se extinguindo,
Apagando a noite inteira…
Só um mocho parecia não chorar
Ante o choro da eternidade
Que não é um, mas um par
De choros duma só saudade
Perguntei-lhe quem chorava
Por todas as noites frias
E quem o choro perpetrava
Nas horas de todos os dias.
Fez um ar inteligente
Assumiu-se narrador
Duma história comovente
Nascida de um grande amor

Quem chora é a Lua,
Espalhando em todo o luar,
Uma dor que não é só sua
Pela terra, céu e mar
Todo o soluçar é de amor,
Espraiando, em lençol,
Lágrimas num luar de dor,
Lágrimas da lua e do sol.
Vivem um amor tão forte,
Em constante despedida
E nem o tempo nem a morte
Apagam a paixão erguida.
Fieis a um amor ausente
Só em dois momentos sem atraso
Se beijam de repente
Ao amanhecer e no ocaso.
Depois gritam a partida
Chorando toda a dor
Lágrimas de toda a vida
Lágrimas dum só amor


Finalmente eu entendia
O choro que escutei
E ao nascer o novo dia
Olhei o céu e chorei…

- Espera mais um pouco,
Que a história não acabou
Nem a dor tampouco,
Neste amor se esgotou…
O choro que tens ouvido…
Nunca o ouviras antes....
Está mais forte e mais sentido,
Eles não choram como amantes.
- Porque choram tão forte , então?
Tal choro… que eu nunca ouvia?
Se não é deles toda a dor…
Porque choram tanta agonia?
-Calma, disse fitando o luar,
Deixando uma lágrima cair,
Começando a soluçar.
-Não te posso omitir…
Eles choram por uma dor igual,
Mas que ainda é maior,
Alguém que, vivo, morre afinal
Por não acreditar no amor.
Baixei o olhar no chão..
(Nem sei o que senti…!!!)
Quando o mocho disse, então
- Eles estão a chorar por ti.


Dedico este poema a todos os que passam em silêncio por este blog. Eu sinto-vos desse lado
...

Foto: Andrew Davidhazy

6 Comments:

Blogger vero said...

"Se beijam de repente
ao amanhecer e no ocaso.
Depois gritam a partida
chorando toda a dor
lágrimas de toda a vida
lágrimas dum só amor"
DIVINAL... quando leio as tuas palavras sinto algo especial...não sei explicar...é mágico, intenso...obrigada por estes momentos Billy...são muito especiais para mim...
Todos os dias venho aqui à procura de mais um momento especial...
Brigada!!!
Beijinhos***

6:43 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Abílio

Não quis ficar em silêncio...

Porque o teu poema - é - beleza- bem, que em forma de mágoa - mas belo.

"Meu reino de fantasia…Ou talvez não..."

Este teu "reino" feito de palavras e sentimentos profundos.

Belíssimo este teu poema.

Beijinhos

1:03 da manhã  
Blogger Que Bem Cheira A Maresia said...

É uma bela homenagem,sem dúvida, mas como sabes eu sou um cadito barulhenta ehehehe e quando passo por norma deixo rasto:)

Não sei se o teu reino é o da fantasia, mas sei que qualquer um de nós muitas vezes anseia ser protagonista de uma qualquer história do era uma vez...:)

Beijoka da mar revolto

4:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Muito, muito belo.

11:11 da manhã  
Blogger Maria said...

Sem palavras. Beijo grande

5:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Obrigada, pelos dias que aqui venho e, por vezes não comento, talvez porque a madrugada, fale por mim...

"...Perguntei ao mar e ao céu
De quem era a agonia
O céu não respondeu
O mar secou uma onda fria.
..."


Um abraço carinhoso ;)

5:12 da tarde  

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